terça-feira, 25 de novembro de 2008

Para saber mais

Se você ficou interessado(a) e deseja conhecer mais sobre a obra e a vida de Gerog Büchner, segue abaixo a indicação de várias obras sobre o autor e análises de seu trabalho.


BIBLIOGRAFIA SOBRE GEORG BÜCHNER


ARON, Irene. A modernidade de Georg Büchner. Fragmentos. Santa Catarina (UFSC), v. 1, n. 1, p. 178-184, jan. 1986.

___. O "Lenz" de Peter Schneider e seu modelo, o "Lenz" de Georg Büchner. Cadernos da Semana de Literatura Alemã Contemporânea; III Semana de Literatura Alemã 1989: Literatura como Fonte de Literatura. São Paulo (USP), v. 2, p. 27-37, 1989.

___. Was keine Variante mehr zuläßt ist der Tod. Projekt. Revista de cultura brasileira e alemã. São Paulo, v. 4, p. 16-17, out. 1991.

___. Georg Büchner e a modernidade. São Paulo: Annablume, 1993.

___. Georg Büchner e a modernidade extemporânea. Fundadores da modernidade na literatura alemã. Anais da VII Semana de Literatura Alemã. Org. Eloá Heise. São Paulo (FFLCH-USP), p. 47-56, 1994.

BROMBERT, Victor. Georg Büchner: o idioma do anti-heroísmo. In: ___. Em louvor de anti-heróis. Figuras e temas da moderna literatura européia 1830-1980. Tradução de José Laurenio de Melo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 25-44.

GUINSBURG, Jacó; KOUDELA, Ingrid Dormien. (Org.). Büchner: Na pena e na cena. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2004.

MAGALDI, Sábato. O texto no teatro. São Paulo: Perspectiva / Edusp, 1989. (Estudos, 111).

PEIXOTO, Fernando. Georg Büchner; A dramaturgia do terror. São Paulo: Brasiliense, 1983. (Encanto Radical, 27).

REDONDO, Tercio Loureiro. Lenz no Jardim - considerações em torno do olhar e da figura feminina na narrativa Lenz, de Georg Büchner. 2000. Dissertação (Mestrado em Língua e Literatura Alemã) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.

RIBEIRO, Leo Gilson. Cronistas do absurdo: Kafka, Büchner, Brecht, Ionesco. 2. ed. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1965.

ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: Desa, 1965. (Buriti, 5).

___. Teatro moderno. 2. ed. São Paulo: Perspectiva,1985. (Debates, 153).

THEODOR, Erwin. O trágico na obra de Georg Büchner. São Paulo: Fac. Filosofia, Ciências e Letras (USP), 1961.

___. Temas alemães. São Paulo: Conselho Estadual de Cultural / Comissão de Literatura, 1965. (Ensaio, 41). (Analisa A morte de Danton e Woyzeck, de Büchner)

A VIDA E OBRA DE GEORG BÜCHNER

BIOGRAFIA DE GEORG BÜCHNER

traduzido por Raphael Cassou.


Nasceu em 17 de outubro de 1813 no Gran Ducado de Hesse-Darmstadt. Büchner foi educado em uma escola privada e no Gymnasium Darmstadt. Seu pai, um médico a serviço do Gran Duque, na aprovava as tentativas de Georg no campo literário. Ele o encorajava a enfocar seus interesses em assuntos de caráter científicos. Ainda jovem, Georg Büchner estudou zoologia e anatomia comparada em Estrasburgo onde ele teve o primeiro contato com um grupo de estudantes politicamente radicais. Nesta cidade, ele secretamente tornou-se noivo de Minna Jaeglé, filha de um pastor que hospedava o jovem Büchner.


Depois de retornar a Hesse para dar prosseguimento aos estudos na Universidade de Giessen, Büchner sofreu um ataque de meningite. Sob influência dos estudantes radicais aos quais ele havia se associado em Estrasburgo, decidiu ajudar a fundar a revolucionária “Sociedade dos Direitos Humanos”. Em 1834, em companhia de um agitador político, o Pastor Weidig, ele escreve e distribui um panfleto ilegal intitulado “O correio de Hesse” o qual, desde então, é considerado como um dos mais brilhantes panfletos políticos em língua alemã. Büchner foi rapidamente denunciado como sendo o autor do panfleto, mas por falta de evidências e por se declarar inocente, Büchner teve sua prisão postergada o que permitiu a ele retornar para sua casa em Darmstadt.


Durante um período de cinco semanas, em 1835, Büchner secretamente escreveu A Morte de Danton, uma tragédia que descreve as desilusões do ativista Danton com a Revolução Francesa. Em março desse mesmo ano, Büchner foge para Estrasburgo, para evitar sua prisão e nunca mais retornou a Alemanha ou se engajou em atividades políticas.


Em 1836, ele escreveu uma comédia romântica intitulada Leonce e Lena para uma competição literária, mas ele perdeu o prazo de inscrição para o concurso e sua peça sequer foi lida. Neste mesmo ano, ele provavelmente começou a trabalhar em sua obra prima inacabada, Woyzeck [...]
A peça é muito provavelmente baseada em um incidente real, pois existem registros de um barbeiro chamado Woyzeck que foi julgado e sentenciado à morte por assassinato na década de 1820. Anos após a morte de Büchner, esta obra teria se transformado em uma ópera nas mãos do modernista Allan Berg (Wozzeck).
Büchner posteriormente tornou-se Doutor em filosofia pela Universidade de Zurique e foi nomeado Conferencista em Ciências Naturais após uma prova discursiva sobre nervos cranianos dos peixes. Dentre seus trabalhos literários destacam-se, uma novela (Lenz), as traduções de duas peças de Victor Hugo, a comédia romântica (Leonce e Lena), uma tragédia completa (A Morte de Danton), e um grande fragmento (Woyzeck).


Em 19 de fevereiro de 1837, pouco antes de finalizar Woyzeck, Georg Büchner morreu de tifo após passar cerca de 17 dias lutando contra a doença. Ainda não havia completado 24 anos de idade. O autor nunca chegou a ver uma de suas peças montadas. Hoje, Büchner é considerado um dos precursores do Naturalismo e do Expressionismo.




Fonte: http://www.imagi-nation.com/moonstruck/clsc29.html
Acessado em: 10/11/2008

O PREFÁCIO DE ARTHUR ADAMOV

Büchner, Georg. Théatre Complet: La Mort de Danton, Léonce et Lêna, Woyzeck. 1953, L’Arche Editeurs, Paris.




Prefácio de Marthe Robert e Arthur Adamov
(traduzido por Raphael Cassou)




George Büchner nasceu em 17 de outubro de 1813 em Goddelau próximo a Darmstadt. Ele ainda não havia completado 17 anos quando eclodiu a Revolução Francesa de 1830. Como muitos jovens alemães, ele se encheu de entusiasmo pela liberdade que era agora encarnada pela França. Em 1831, sua família o envia à Strassburgo para a feira de estudos científicos. Apaixonado pelas ciências naturais, a esta altura ele já compartilhava em seu espírito das tendências científicas e da necessidade de criação literária.
De volta à sua província ele é convocado a participar de um movimento revolucionário que se dirigia contra o poder dos Príncipes, movimento este que foi muito rapidamente sufocado.
Ameaçado por causa de sua relação com os chefes do movimento, ele refugia-se primeiramente na casa de seus pais em Darmstadt, onde escreve A Morte de Danton aos 22 anos de idade.
Temendo sempre a polícia, ele se muda para a cidade de Rhin e, posteriormente, retorna à Strassburgo, onde obtém o perdão e entrega-se ao trabalho. Ele traduz Lucrecia Bórgia e Mary Tudor, escreve uma novela: Lenz e uma comédia: Leonce e Lena. Ele inicia também a sua segunda peça: Woyzeck, que permaneceu inacabada.


Aos 23 anos ele parte para Zurique, onde assume o cargo de professor da Faculdade de Filosofia. É nesta cidade que alguns meses mais tarde, no dia 19 de fevereiro de 1837, ele morre de tifo.


Nenhuma de suas peças foram encenadas com o seu autor em vida. Na Alemanha, é encenado por Reinhardt que redescobriu Büchner entre as duas guerras mundiais.
George Büchner morreu aos 24 anos deixando uma obra em parte incompleta que, após 150 anos, tem para nós uma potência e uma eficácia que na sua época era longe de suspeitas. Dotado de uma inteligência vasta e aguda, alguns anos lhe foram suficientes para dar uma volta pelo campo das idéias filosóficas e científicas que fermentavam em sua época, para impregnar-se e libertar-se. Ele não somente se lançou na vida política, ele mergulhou brutalmente na duplicidade ligada a qualquer ação, que não demorou em renunciar. Ele julgava sua época terrível e apaixonante, e foi convocado a contá-la sob a forma de poema, porém preferiu usar a forma que se impôs a ele com mais força: a do drama.


Por volta de 1830, Büchner encontrou a sua frente uma Alemanha perturbada e confusa, com sua cena teatral esvaziada na qual o melhor que se apresentava eram os fantoches de Kotzebue ou imitações rasas dos clássicos franceses. Deste Teatro vazio de conteúdo e de vida, Büchner quis preenchê-lo, fazer deste um espaço privilegiado para a representação e simbólico para a ação humana. O autor acreditava que a representação deveria ser o mais próximo possível da realidade, este seria o sinal de ruptura necessário para ele rever a sua época.


Como que para sublinhar ainda mais o tempo, que foi singularmente medido por Büchner, este é o verdadeiro herói da sua obra. É o tempo que, pela sua precipitação, pelo seus atalhos, por seu uso dissimulado ou por sua lentidão, escava um vazio que o homem esforça-se para preencher, e que o faz sem conhecer o seu real sentido. A obsessão pelo tempo, o pânico do espírito, que na frente deste dado incompreensível e que obstina-se a querer apreendê-lo, constitui em Büchner o motivo constantemente presente em sua cena, ao lado e atrás das personagens. Crendo obedecer às suas idéias, as suas paixões e as suas leis, os heróis são realmente joguetes do tempo e de suas necessidades.


Como homem à frente de sua época, para quem a história começa a aparecer como um fenômeno perceptível, Büchner extrai da História a imagem mais grandiosa e mais sangrenta desta influência do tempo sobre o homem. Para ele, é ao mesmo tempo a prova e o símbolo do abandono ao qual é condenada qualquer vida, abandono sem recursos, dado que o homem não sabe que ou de que é abandonado uma vez que ignora a causa primeira deste abandono, se ele é o responsável ou simplesmente vítima. O drama histórico não é por conseguinte aqui um simples pretexto para se fazer desenrolar na frente dos espectadores os acontecimentos passados a frio da imaginação e sem qualquer elaboração. É uma imagem complexa, difícil de decifrar, perturbada por mil contradições, uma situação que é verdadeiramente a única conhecida pelo homem, uma vez que por sua natureza, ele nunca é apanhado pelo tempo. E como esta imagem não seria sangrenta e suja, já que a existência é marcada de um extremo ao outro pelo tempo e pela destruição?


Os contemporâneos de Büchner censuraram A Morte de Danton, por sua imoralidade inata e os seus tons acentuadamente sombrios. Mas esta censura banal dirigia-se, com efeito, à lucidez que se recusa a qualquer cautela e que descobre a crueldade.
A crueldade, em Büchner, não está somente ligada à pressão dos acontecimentos ou da ignorância na qual os homens se encontram, nas conseqüências de seus atos ou ainda na luta cega que opõe uns aos outros, mas aproxima-os ou afasta-os em uma semi-consciência deles mesmos, a crueldade büchneriana é a expressão de uma ignorância fundamental, a do homem em relação à vida. Falta saber porque eles existem, os heróis de A Morte de Danton procuram razões para existir, mas este pretexto é insuficiente e miserável. Eles mesmos não acreditam inteiramente nesta possibilidade. Pouco importa que para alguns, como Robespierre, há muito da história que se confunde com a sua própria pessoa, a catástrofe não recairá menos sobre sua cabeça.


Na cascata de violência e de mortes que marcam o caminho de uma revolução, não existem mais causas perceptíveis que se detectam isoladamente no drama de Woyzeck, o homem miserável e sem poder que destrói ao mesmo tempo pela fatalidade de sua natureza, pelos ataques que vêm do exterior e por uma força que não possui nome.


De A Morte de Danton à Woyzeck, a crueldade desce nas profundidades da humilhação e o drama despoja-se da retórica para atingir a crueza da ação e da linguagem. Os acontecimentos são reduzidos, assim como a ação, em apenas alguns pontos de contato efêmeros entre as personagens. O diálogo não está mais lá para estabelecer uma ponte entre eles, mas para revelar a impossibilidade de reencontro.
Enquanto que para os heróis de A Morte de Danton a retórica mascarava tanto o mal quanto o medo da morte, o empobrecimento da linguagem em Woyzeck revela um paroxismo do medo que vai até o desejo da morte. Quaisquer palavras pronunciadas por Woyzeck não trarão senão a morte para todos, mistério que, em seu cérebro doente, é também o mistério de vida e da sexualidade. Assim de Danton à Woyzeck a luz muda e o ar se rarefaz, pois o amor e a morte mudam de signos e a crueldade muda de forma.
No drama revolucionário, a crueldade reside na sucessão de fatos, sucessão esta que desloca incessantemente a culpabilidade dos heróis. Em Woyzeck, ela resulta de sua simultaneidade, que opõe os personagens não por causa de uma hostilidade fortuita, mas por causa de sua existência, como que separadas. Nestes anos, Büchner vai além deste ponto onde os acontecimentos são encarados como terríveis e escandalosos, vai a este outro ponto ainda mais inquietante onde a vida por si só é o objeto de escândalo. Neste ínterim, não há mais apaziguamento possível, o espírito está congelado na sua razão de ser mais profunda, porque ele compreende que a separação não é um acidente histórico, mas o mal próprio ao homem.
Todos os personagens de Woyzeck, possuem essa doença. Woyzeck deliria, o Doutor é um maníaco e o Capitão é um melancólico. Mas estes fundos comuns de doença só fazem com que eles se separem mais irremediavelmente. Cada um é prisioneiro de seu mal particular e de suas ações. Cada personagem é levado a ser vítima e carrasco.


Na obra George Büchner – e nela ele anuncia toda uma literatura – esta prisão de consciência que é a natureza profunda do “mal”, que provoca a combinação do trágico e do cômico, o humor tem uma certa maneira de ver o trágico e uma revanche eficaz sobre ele.
Esta revanche Büchner a toma, sem violência desta vez, com graça e espírito da única comédia que escreveu, Leonce e Lena, cujo tema é voltado à comédia satírica. A sátira, em efeito, por causa das altas funções sociais e da honra dos indivíduos, são caricaturizadas, mas a sátira é também metafísica porque a caricatura desenha a impotência do espírito diante das leis naturais – e a grande fadiga que decorre da impotência. Quando Büchner se vê em Leonce, ele é tão melancólico e cético quanto Danton. Como Danton, ele não suporta a sucessão dos dias, como ele ama o amor e não ama mulher alguma. Preso na repetição infinita de gestos, Leonce descobre que está cercado por uma comédia onde só se movem as engrenagens.
A metamorfose do homem em máquina cega é a mais grave conseqüência de sua maneira de viver os tempos. Em A Morte de Danton, o mecanismo é a História simbolizada pela guilhotina. Em Woyzeck, é a substituição do animal pelo homem – o Doutor trata Woyzeck como um gato naquele seu experimento. Trata-o mais cruelmente que ao gato, pois reduziu o homem ao estado de objeto. Em Leonce e Lena, o aspecto mecânico das coisas está no centro da ação cômica visto que a peça se desenrola graças ao casamento de dois manequins falsos.


Excedendo de longe uma época onde é a maior dificuldade consistia em negar a realidade e exaltar o sonho e revelando o trágico para o humor e o humor para o trágico, se sentindo infinitamente responsável e falível, Büchner nos coloca diretamente em encontro com a literatura que aborda a supressão da realidade na negação e que em seguida a suprime na cópia.
A idêntica distância entre o Naturalismo e o Romantismo deu corpo a esta união indissolúvel do mundo visível e invisível que está na origem do Teatro e permanece a sua única razão de existir.